Coluna - Observatório da Imprensa
Quando as manifestações começaram, lideradas por grupos de esquerda, havia palavras de ordem contra os meios de comunicação. A Polícia, ao reprimir as manifestações, atirou com balas de borracha no rosto de jornalistas. Quando os grupos que lideravam as manifestações passaram a manifestar-se contra o PT e as teses de esquerda, apresentaram suas palavras de ordem contra os meios de comunicação. A acreditar nos locutores de TV, as manifestações eram belíssimas e pacíficas, embora houvesse pequenos grupos de vândalos, repudiados por todos, praticando algumas barbaridades. E que faziam esses vândalos? Tinham palavras de ordem contra jornalistas e veículos de comunicação, e incendiaram veículos e equipamentos de rádio e TV que estavam a seu alcance. Nas redes sociais, a Globo foi acusada de oposicionismo sistemático, de petismo e de governismo. A Folha foi acusada por governismo e antigovernismo, conforme as informações que divulgava e desagradavam ora a uma ala, ora a outra.
Será que ninguém gosta de nós, jornalistas?
Não é bem assim (nossas mães, por exemplo, gostam de nós). Mas o explosivo crescimento das redes sociais, com a abertura de possibilidade de manifestação a quem antes não tinha acesso aos meios de comunicação, valoriza neste momento as vozes mais radicais. Radical, seja de que lado for, não gosta de jornalista. Há opiniões parecidíssimas sobre o papel da imprensa vindas da direita e da esquerda, expressas por fascistas e por comunistas - não esses de hoje, mas os de antigamente, que estudavam Marx e os grandes teóricos revolucionários. A valorização do papel dos meios de comunicação é tese dos liberais, como Thomas Jefferson. Mas num momento de radicalismo como o atual os liberais perdem espaço. Afinal de contas, não dá para ser um radical de centro.
A perseguição aos jornalistas certamente contribuiu para a perda de qualidade na cobertura. Colocar as câmeras em helicópteros, prédios, drones permite fazer imagens excelentes, mas fica faltando alguém no meio das multidões, ouvindo as conversas, fazendo perguntas, buscando respostas. Contribui, também, para reduzir o nível de politização das manifestações. Como ninguém sabe exatamente quem está na passeata, e as teses são amplíssimas - contra tudo o que está aí, por mudanças já, em favor da população - permite-se que se junte no mesmo grupo o petista, o antipetista, o que acha que a PEC sabe-se lá de que número vai favorecer os bandidos, o que acha que a Polícia deveria matar algumas centenas de pessoas com cara de marginais para mostrar que o combate ao crime agora é para valer, o que quer botar os condenados do Mensalão na cadeia e o que quer anular o processo do Mensalão, para evitar que pessoas tão boas sejam presas.
Em resumo, gregos e goianos ficam lado a lado, sem que um saiba o que o outro pensa. No entanto, para que as manifestações deixem saldo positivo, é importante que se saiba o que os manifestantes pensam, de que lado estão, qual sua proposta política. Sem isso, o que sobra é a imagem dos pontapés em vitrines e de coquetéis Molotov atirados em prédios públicos e lojas.
Quem é quem
De acordo com o noticiário, "movimentos que defendem a democratização dos meios de comunicação" realizaram, na noite do dia 25, uma reunião no vão livre do Museu de Arte de São Paulo, na avenida Paulista, e resolveram "aproveitar o ambiente de efervescência política para pautar o assunto". Eram cerca de cem participantes, que decidiram manifestar-se diante da Rede Globo na semana seguinte. O noticiário, para variar, foi acrítico; mas, se havia "movimentos", eram, para justificar o plural, pelo menos dois grupos; e, juntos, reuniam cem participantes. Ou seja, cinquenta para cada um, e isso na melhor das hipóteses. A valorosa torcida do Íbis, O Pior Time do Mundo, é bem maior do que isso. E, a propósito, a notícia aceita como boa a frase "democratização dos meios de comunicação".
Que democratização é essa, cara-pálida? Impedir que jornalistas façam seu trabalho é democratizar?
O custo da festa
A presidente Dilma Rousseff lançou a ideia do plebiscito, oposicionistas e governistas discutem se é democrático ou não, se há ou não golpismo na proposta, as redes sociais debatem o que deve ser votado. Há outra discussão paralela: plebiscito ou referendo?
O que foi pouquíssimo debatido (e este colunista encontrou um bom apanhado em um único jornal, O Estado de S.Paulo, cujo noticiário foi aproveitado em outros veículos que compram as informações) é a viabilidade técnica do plebiscito. Em quanto tempo é possível realizá-lo? Qual o custo do plebiscito?
De acordo com o Estadão, se tudo correr bem e houver colaboração geral, será possível realizar o plebiscito no início de setembro, com gastos de R$ 500 milhões. O custo é alto (as eleições municipais custaram ao Tesouro R$ 395 milhões) principalmente pela falta de tempo para um bom planejamento. "Quanto maior o planejamento, menor é o custo", diz a ministra Carmen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Outro fator a encarecer o eventual plebiscito é o vandalismo que tomou conta de várias passeatas, o que obrigará o TSE a reforçar a segurança com apoio de militares das três forças. E é provável que se tenha de gastar mais algum dinheiro com a propaganda das eleições: será preciso enfatizar que o voto é obrigatório e explicar as questões que serão votadas.
Reclamar da imprensa
Se o caro colega quiser reclamar de algum defeito no carro, há ótimas colunas especializadas em jornais, portais e blogs. Se tiver problemas com alguma compra, há amplo espaço para reclamação nos grandes veículos. Mas experimente ter algum problema com assinatura de jornais ou revistas: é bom ser religioso, praticante e militante, pois vai mesmo é ter de queixar-se ao bispo.
Um conceituado jornalista, João Bussab, renovou com antecedência sua assinatura de Exame, da Editora Abril, aproveitando uma promoção. Pagou a renovação integralmente, no banco, sem aceitar a oferta de parcelamento em quatro vezes. E aí começaram seus problemas. Recebeu um boleto da Abril informando que ele tinha pago a primeira parcela e deveria pagar mais três. Ligou para o vamos estar providenciando para que o senhor possa estar renovando sua assinatura da Abril, e lá falou com cinco atendentes.
Inútil: teria de mandar o xerox do canhoto com o pagamento integral. Mandou o xerox. Alguns dias depois, o tal SAC ligou-lhe outra vez pedindo tudo de novo, ou não poderíamos estar renovando a assinatura. E, para uma empresa organizada, cujo presidente, aliás, é banqueiro conceituado, não seria difícil apurar a verdade: bastaria verificar se caiu na sua conta a quantia integral ou um quarto dela. Mas por que simplificar se é possível complicar?
E por que tratar bem um cliente, se é possível chateá-lo?
É Dóris de novo
Há alguns anos, ela surgiu como um novo fenômeno de comunicação: a belíssima Dóris Giesse, excelente apresentadora, carismática, jornalista de primeiro time, foi âncora da Record e do SBT, transformou-se na cara do Fantástico, criou um programa que marcou época, Dóris para Maiore/. Dóris acabou rompendo com a TV, casou-se com o jornalista Alex Solnik, criou seus filhos, sumiu dos meios de comunicação.
Mas Dóris está de volta, e pela Internet. Em julho, em poucos dias, ela estreia o portal www.dorisparamaiores.com.br. Nada contra a TV: o portal é apenas um começo, um degrau na retomada da posição que sempre foi sua nas grandes redes.
Dóris promete: "Vou mostrar que estou viva".
A vida de quem resistiu
Um pequeno jornal alemão, o Münchener Post, de Munique, foi o maior adversário do líder nazista Adolf Hitler no país. Era contra Hitler antes que ele tomasse o poder; manteve-se contra Hitler quando se tornou ditador do país e passou a eliminar quem quer que se opusesse. Hitler e os nazistas tinham um ódio especial pelo Münchener Post, que chamavam de "cozinha venenosa". Os nazistas atacavam seus profissionais na rua e por duas vezes depredaram sua redação (alguma comparação com os dias atuais?) "A batalha travada entre Hitler e os corajosos repórteres do Post é um dos grandes dramas nunca relatados da história do jornalismo", escreveu o jornalista americano Ron Rosenbaum.
A história magnífica da luta de um jornal contra a máquina destruidora do nazismo foi levantada por uma jornalista brasileira, Silvia Bittencourt. É um belo trabalho de reconstituição histórica, muito bem escrito. Lançamento foi nesta terça, dia 2, na Livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509, SP), com debate da autora com o crítico literário Manuel da Costa Pinto, da Folha e da TV Cultura.
Como...
Título de um grande portal noticioso: