Coluna - Observatório da Imprensa
Não faz muito tempo, descobriu-se que o deputado federal Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, usava parte da verba de seu mandato para comprar reportagens pagas num jornal de seu Estado, o Rio Grande do Norte. Escândalo? Imagine! O escândalo é bem pior: o jornal que publica as reportagens pagas pelo deputado, elogiando o deputado, é de propriedade dele mesmo, o deputado.
O senador Jader Barbalho é dono de um forte grupo de comunicações, mas gasta bom dinheiro da verba de seu mandato em divulgação - como se os veículos que a ele pertencem, o jornal Diário do Pará, o Grupo RBA de Comunicação e a TV Tapajós, filiada à Rede Globo, não o promovessem o suficiente.
O ministro da Integração, Fernando Bezerra, levou a Brasília, por conta do Tesouro, nove blogueiros de Estados nordestinos - tudo pago, passagens, hospedagens, refeições, passeios pela cidade. Aceitará em troca notícias que não sejam favoráveis? Ou que, no futuro, critiquem obras do Ministério no Nordeste?
Mas estas são iniciativas individuais. Há também projetos específicos de injeção de publicidade estatal em veículos que, talvez por coincidência, se coloquem com ênfase a favor do Governo. Para este colunista, o fenômeno provavelmente é inevitável: se o Governo puder gastar em publicidade não-institucional, é muito difícil que encaminhe o maior volume de seu dinheiro para veículos que não o apoiem, mesmo que tecnicamente a mereçam. O erro está na existência de publicidade pública maciça (os anúncios oficiais deveriam limitar-se à promoção de informações essenciais, como campanhas de vacinação, etc.) Não há justificativa para pagar por publicidade de empresas estatais não-competitivas, como a Sabesp em São Paulo (única fornecedora de água, única coletora de esgotos), ou do BNDES nacional.
De qualquer forma, é interessante verificar como é distribuída a verba estatal de publicidade (as informações disponíveis são apenas federais; mas o dinheiro estadual é investido em propaganda da mesma maneira distorcida). As informações sobre verbas federais foram fornecidas pela ministra Helena Chagas.
1 - O site Carta Maior, com 9,7 milhões de visitas em 2012, recebeu R$ 830 mil de publicidade federal no período. Mais que a versão eletrônica da Folha ,com 311 milhões de visitas, que recebeu R$ 780 mil; e que a Abril.com, que recebeu três bilhões de visitas e verba de R$ 586 mil.
2 - O portal Terra é o sétimo em audiência e o primeiro em anúncios federais.
3 - O Facebook tem 48 vezes a audiência do R7, ligado à Rede Record, mas recebe menos publicidade do Governo Federal.
Clicando aqui, um balanço da distribuição das verbas publicitárias federais, mostrando que o pessoal a favor recebe mais, independentemente da audiência.
Paulo Henrique x Heraldo
Por falar no assunto, Paulo Henrique Amorim, que assina um dos endereços virtuais mais favoráveis ao Governo Federal, Conversa Afiada, acaba de ser condenado a 20 meses de prisão (que serão transformados em pena a ser cumprida em liberdade) por ofensa ao apresentador Heraldo Pereira, da Rede Globo. Os comentários de Paulo Henrique foram considerados "injúria preconceituosa", atingindo a cor da pele de Heraldo Pereira. A pena originalmente seria de 23 meses de reclusão, mas foi reduzida a 20 meses por "atenuante de senilidade", nome técnico para garantir punição mais branda a quem tenha mais de 70 anos.
A advogada de Paulo Henrique Amorim, Maria Elizabeth Queijo, alega que seu cliente exerceu apenas o direito de crítica, que tem uma história de vida de defesa dos negros. E vai recorrer da sentença.
Pannunzio de volta
O repórter (e blogueiro) Fábio Pannunzio está livre da censura: ganhou o processo que lhe era movido pelo secretário da Segurança de São Paulo (que logo se transformaria em ex-secretário), Antônio Ferreira Pinto, por ter publicado reportagens contando a verdade sobre a situação da Polícia paulista.
O processo de Ferreira Pinto contra Pannunzio foi considerado improcedente; de acordo com a Justiça, as reportagens foram bem apuradas, com críticas duras mas sem intenção de atacar a honra do secretário. A censura ao blog foi suspensa. Ferreira Pinto não só deixa de obter a indenização que pedia, de R$ 80 mil, como terá de pagar as custas do processo, e mais R$ 5 mil.
Diz a sentença: "Os fatos não foram descritos de forma isolada, sem qualquer embasamento factual. Segundo a documentação acostada com a contestação, o requerido vinha acompanhando os desdobramentos de tais acontecimentos, por meio de fontes, documentos e outros noticiários".
Pannunzio não marcou data, mas promete trazer logo o blog de volta, "pronto para a guerra contra a censura, os detratores da imprensa livre e os lambe-botas dos poderosos".
A guerra das ruas
Cada pessoa tem o direito de pensar o que quiser da Rede Globo, inclusive as piores coisas. Daí a defender a invasão do prédio da emissora, como vimos nas redes sociais durante a manifestação em frente ao prédio da Globo paulista, vai uma enorme distância. Pior é ver jornalistas favoráveis ao uso de violência contra quem se opõe a suas ideias. Pior ainda é ver jornalistas escondendo que sejam jornalistas e se manifestando contra a emissora como se jornalistas não fossem.
E não deixa de ser curioso observar quanta gente, depois de ter saído de uma empresa onde trabalhou por muito tempo, passa a acusá-la das coisas mais horrendas. Deve ser a vantagem de ver as coisas com distanciamento, com maior amplitude; coisas que, de dentro, certamente seriam muito mais difíceis de observar.
A guerra à reportagem
Foi uma cena espantosa: o secretário de Esportes, Lazer e Recreação de Osasco, SP, Severino Ferreira dos Santos, vulgo Tinha de Ferreira, agrediu o repórter cinematográfico Alexandre Borba, da Rede Record durante cobertura de apreensão de produtos roubados, escondidos no estádio municipal da cidade. O secretário gritou para a reportagem que não estava autorizada a entrar e empurrou o repórter cinematográfico, jogando-o ao chão.
Pergunta do repórter da emissora, Bernardo Armani, ao secretário: "Se a Prefeitura não está envolvida, por que o agrediu?" O secretário não respondeu. Os policiais que apreenderam o material roubado no estádio da Prefeitura o prenderam em flagrante e o levaram à delegacia, onde assinou termo circunstanciado por agressão e foi liberado. Mas deve responder a processo.
O secretário continua no cargo, depois de sua explosão de fúria? Depende: a decisão é do prefeito Jorge Lapas, do PT.
Correção
Normann Kalmus, assíduo leitor desta coluna, corrige informação publicada na semana passada: o endereço correto de Dóris para Maiores, que marca o retorno da musa Dóris Giesse aos meios de comunicação, é http://dorisparamaiores.blogspot.com.br/
Como...
Um grande jornal eletrônico, em seu título principal, cita o "plesbicito". Erro de digitação, talvez - mas não é, não: outro título, logo abaixo, insiste em plesbicito. Deve ser algum tipo de vostação, por que não?
...é...
De um jornal impresso, ainda um dos mais importantes do país: