Coluna - Observatório da Imprensa
Na verdade, senhor leitor, a Espanha e outros grandes times europeus foram eliminados por injunções políticas, porque a Copa está comprada pelo Brasil, já que assim Dilma se reelege. E o Governo tucano de São Paulo permite os black-blocs na rua para desmoralizar a segurança, prejudicar o êxito da Copa e jogar a culpa no Governo Federal, ajudando assim a derrotar Dilma.
E, pensando bem, esses jogadores e a Comissão técnica, todos milionários, todos muito bem de vida, todos morando no Exterior, não estão nem aí para a Copa. Imagine, na hora em que todos deveriam estar focados, concentrados, unidos, treinando, um repórter topa com o Felipão e o Neymar num avião de carreira, sem acompanhamento nenhum - tão solitários que o Felipão está até sem o Murtosa, tão pouco solidários que o Felipão até deu entrevista falando mal do seu time, que costuma chamar de Família Scolari.
E o público, talvez por isso, não se identifique com aqueles que deveriam ser seus ídolos. Felipão e Neymar, sem séquito, sem staff, sem papagaios de pirata, e nenhum passageiro, a não ser o repórter, se aproxima deles para pedir fotos, autógrafos, sugerir aquela modificação tática que, a seu ver, vai mudar tudo.
Abra os jornais, veja a TV: no lugar dos jornalistas esportivos, que sabem onde é que a jurupoca faz o ninho, dezenas de ex-jogadores, psicólogos, sociólogos, acadêmicos do esporte, artistas dos mais variados meios, escritores, granfinos, empresários, socialites (haverá diferença entre socialites e granfinos? Vale pesquisar), financistas, todo mundo botando a asneirenta colher torta na panela do futebol. E políticos, políticos, políticos!
Uma presidente que ia ao Mineirão com o pai numa época em que o Mineirão não tinha sido construído, um eterno candidato que se diz fanático torcedor de um time mas não conhece nenhum de seus craques históricos, os semiólogos da bola, embora jamais tenham entrado num estádio e, se entrarem, não saberão quem é a bola: que gente chata!
O Brasil ganhou por 3x1, a manchete do jornal diz que o Brasil ganhou por 3x1, mas o jornal tem intenções malévolas, quer derrubar com essa manchete distorcida todo o edifício eleitoral de um dos lados, ou provocar, ao informar de maneira solerte que o Brasil venceu por 3x1, quando na verdade o Brasil venceu por 3x1, o crescimento da campanha de algum dos candidatos, sabe-se lá quem. Ou, talvez, insuflar os ânimos de quem queira vaiar alguém?
Este colunista já levou uma freira a um estádio (tinha um amigo maluco que pediu o favor, que fazer?), já cantou "1, 2, 3, o Santos é freguês" no jogo em que um tabu de alguns anos foi derrubado, já apareceu na primeira página do Jornal da Tarde com a bandeira do Corinthians, fotografado nas arquibancadas do Parque São Jorge ao assistir a um jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto. Já sustentou com seriedade a tese de que Flávio, o Minuano, era um goleador muito mais completo que Pelé. E queria Paulo Borges no lugar de Jairzinho na Seleção que seria campeã em 1970. Este colunista lembra quando o palmeirense Sandro Vaia celebrou a troca do corinthiano Ribamar pelo palmeirense Neto. Neto é até hoje o Xodó da Fiel, foi várias vezes campeão pelo Corinthians; Ribamar não chegou a marcar a história do Palmeiras.
Futebol é paixão, é alegria, é emoção. Futebol é ver Renato Pompeu, o palmeirense, dizer que Copeu era o melhor ponta-direita do país. Tirem a análise política de cada chute, de cada resultado, e devolvam o futebol para nós, torcedores, que gostamos dele e sabemos do que se trata.
Cadê o editor?
A mesma reportagem com o sósia de Felipão foi publicada em dois jornais de primeira linha. OK, o repórter errou. E os editores dos dois jornais? Ninguém achou estranho que dois expoentes da Seleção estivessem num voo comercial, sem seguranças, sem amigos, sem papagaios de pirata, sem um mercadante por perto, sem um pingo sequer de comoção entre os passageiros? Ninguém estranhou que Felipão tivesse falado mal de dois de seus jogadores preferidos, David Luiz e Thiago Silva? Ninguém estranhou que o cartão de visitas de Felipão tivesse outro nome e a indicação "sósia de Felipão"?
Um jornalista experiente, Ulysses Alves de Souza, que brilhou na Folha de S.Paulo, no Jornal da Tarde, na Veja (e apresentou a obra de Campos de Carvalho a este foca, há algumas dezenas de anos), costumava definir da seguinte maneira as funções num veículo de comunicação: "O repórter reporta, o redator redata e o editor acochambra".
Pois é.
Tá faltando um
Este era dos grandes: Arnaldo Fiaschi, Bacalhau, fotógrafo que se destacou no O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde em equipes estreladas por Rolando de Freitas, Mílton Ferraz, Reginaldo Manente, Solano José, Kenji Honda, Sidney Corralo, Domício Pinheiro, Geraldo Guimarães, José Bento Lenzi, Iwame "Wakamoto" Yamasaki, Francisco Lucrécio Jr, José Pinto, tantos outros craques das câmeras. Bacalhau era um dos preferidos dos personagens que apareciam nas fotos.
Certa vez, resolveu abolir o apelido - o que, sabemos, é mais difícil do que assistir a um jogo de golfe pela TV. E ameaçou brigar com quem quer que o chamasse de Bacalhau. Foi o suficiente: os gentis companheiros avisaram as fontes. Na hora do jogo, qualquer repórter que fizesse uma pergunta ao técnico recebia uma resposta mais ou menos nos seguintes termos: "Como eu disse ao Bacalhau (...)" E a resposta era publicada em todos os jornais e divulgada em todas as emissoras, com o esclarecimento: "Bacalhau é o repórter fotográfico Arnaldo Fiaschi". Ou, numa entrevista sobre Economia, o empresário dava o exemplo: "Se o Bacalhau aqui pedir um financiamento (...)" E toque a resposta na íntegra. Sinal de que jornalistas e fontes podem entender-se numa boa.
Bacalhau, bom profissional, bom amigo, morreu há poucos dias. Fará falta.
Falta mais um
Jornalista, tradutor, correspondente internacional, publicitário, ghost-writer? Em seus 50 anos de jornalismo, Wladir Dupont foi bom em todas as áreas. Como redator, nos principais órgãos de comunicação do país; como tradutor, trouxe para o português Mário Vargas Llosa, William Faulkner, Octavio Paz, Isaac Bashevis Singer. Cobriu a revolução sandinista na Nicarágua, foi correspondente no México. Afável, tímido, reservado, extremamente leal, transitava sem problemas entre jornalistas das mais diversas linhas partidárias. Um derrame o levou há poucos dias. De vez em quando, um grupo de jornalistas da Folha da Tarde se reúne para uma pizza, para jogar conversa fora. É difícil saber que, na mesa daquela pizza, estará faltando ele.
Como...
De um grande jornal impresso: