Coluna - Observatório da Imprensa
O Congresso em Foco, excelente revista editada em Brasília, se tornou imprescindível por fazer o que é básico em jornalismo: buscar informações, verificar se são corretas, comprová-las e divulgá-las. Um Congresso em Foco que fizesse a mesma coisa no Poder Executivo, outro que se ocupasse do Poder Judiciário, outro das estatais, fariam mais pelo andamento correto das contas públicas do que dezenas de operações, centenas de investigações e milhares de manchetes. Os desvios do prédio do TRT, do juiz Nicolau dos Santos Neto, só prosperaram durante tanto tempo pela falta de um órgão de imprensa que fizesse o serviço do Congresso em Foco. E veículos como esse tornariam muito mais difícil o trabalho clandestino da Turma do Petrolão.
A última do Congresso em Foco é a revelação, numa reportagem de Lúcio Vaz rigorosamente apurada, de que assessores e funcionários de parlamentares contribuem para a campanha - com dinheiro, com trabalho nos dias de folga e nas férias, com esforço redobrado. Sempre, evidentemente, por motivos ideológicos. Qualquer ideologia reconhece a importância de ficar bem com o chefe. O provérbio pode ser um pouco pesado, mas é verdadeiro: "Faça do saco de seu chefe o corrimão da escada da vida". A lista das contribuições é fantasticamente completa: nome do parlamentar, partido, Estado, quantia que recebeu do seu pessoal de gabinete. No total, uns R$ 3 milhões. Os parlamentares - que integram a bancada de 20 dos 28 partidos representados no Congresso - receberam de sua equipe até R$ 90 mil reais.
O pior, caro colega, é que a única novidade no caso é que um repórter, apoiado pelo veículo de comunicação em que trabalha, se deu ao trabalho de buscar informações precisas. Não é fácil: existem leis de acesso à informação, mas mesmo assim muita gente tenta dificultar ao máximo o trabalho jornalístico. Dado o resultado obtido, entende-se a resistência.
Mas por que não é novidade? Porque todos os repórteres da área de Política têm conhecimento de no mínimo outra prática incorreta: a de obrigar os assessores a devolver ao parlamentar, no ato do pagamento, parte do salário que recebem. É quase impossível comprovar essa prática, porque é feita de maneira informal: o funcionário recebe e, imediatamente, entrega uma parte, em dinheiro, ao empregador.
Num caso específico, a assessora recebia salário de R$ 12 mil. Ficava com R$ 2 mil e devolvia o restante à parlamentar, que (ainda bem!!!) arcava com os descontos. Provar? Não é de interesse do parlamentar, não há registro, apenas acontece assim, e pronto.
E, se um funcionário fizer a denúncia, ficará marcado e fechará as portas de eventual novo emprego. Este colunista, quando cobriu Assembleia, tentou muito furar esse cerco. Tinha apoio da direção do Jornal da Tarde, mas não conseguiu prova nenhuma. A matéria simplesmente não chegou a existir.
Mas que a corrupa subterrânea existe, e sem documentos, ah, isso existe.
Oooooô, gente chata!
A guerra partidária sempre foi apaixonante: Getúlio x Brigadeiro, Carlos Lacerda x Samuel Wainer, Adhemar x Jânio, Collor x Lula, os Bias Fortes contra os Andradas, chimangos x maragatos (com direito a guerra civil), Tancredo x Magalhães Pinto, Bornhausen x Ramos. Mas a guerra partidária de agora não é apaixonante: é apenas chata. Pelo que se lê nas redes sociais, a Globo, por exemplo, é simultaneamente uma grande adversária do Governo e uma grande adversária da oposição ao Governo. Distorce as notícias para prejudicar o Governo, distorce as notícias para prejudicar a oposição. Este colunista é acusado, nos comentários a suas colunas, de ser simultaneamente petista e antipetista, quando é apenas jornalista. E, como Groucho Marx, jamais entraria num partido que o aceitasse como filiado.
O último lance da Gente Chata aconteceu recentemente, quando William Bonner, o ótimo apresentador do Jornal Nacional, que foi amplamente demonizado porque fez à candidata Dilma Rousseff as perguntas que deveria ter feito, recebeu da Rede Globo o Troféu Mario Lago 2014, entregue no Domingão do Faustão pela esplêndida Fernanda Montenegro.
Mário Lago, ator e autor de primeira linha, compositor de alguns dos maiores clássicos da música brasileira, Ai que saudades da Amélia, Atire a primeira pedra, Nada além, Aurora, ator de rádio, cinema e televisão, militante comunista, militante do PT (participou, como um dos âncoras, da primeira campanha presidencial de Lula, em 1989), gênio da comunicação. Esteve na primeira lista de cassações em 64 e perdeu o emprego na Rádio Nacional, estatal. E onde é que foi acolhido? Onde é que trabalhava, nos últimos anos, fazendo sucesso na TV? Exatamente: na Rede Globo.
Pois bem: uma das filhas de Mário Lago, Graça, declarou-se "enojada" com a entrega do prêmio a Bonner. OK, sua opinião. Teve apoio de toda a banda de música engajada da Internet, que não gosta da Globo nem de Bonner - e tem todo o direito de gostar ou desgostar de quem quiser, até por motivos partidários, mas não precisa ser chata. Todos esqueceram, a propósito, inclusive a enojada Graça Lago, que Mário Lago deixou cinco filhos. Uma, Graça, foi contra o prêmio. E os outros quatro?
Citando o próprio Bonner, no programa em que recebeu o prêmio: "Os partidos políticos se instrumentalizaram com robôs {de Internet} que estão ali para insultar outros partidos e insultar a imprensa, que faz apenas o seu trabalho. A intolerância política e ideológica que nós experimentamos neste ano foi muito ruim e ela esteve muito presente em redes sociais."
A falta que eles nos fazem
A propósito da queixa da advogada Emília Soares de Souza, que comprou uma geladeira Samsung que veio com defeito e que não consegue obrigar nem a empresa nem os vendedores a honrar a garantia, a leitora Liliane Rotenberg reclama (e com razão) da qualidade da maior parte das colunas de defesa do consumidor hoje publicadas na imprensa. Já houve uma coluna ótima, no Estadão, na época de Cecília Thompson; há ainda uma boa seção de reclamações no Caderno de Veículos da Folha, aos domingos. Mas é pouco. "O mais irritante", diz a leitora, é que o leitor reclama de algo e a resposta da empresa responsável é sempre vaga". Como, por exemplo, "a situação relatada pelo cliente já foi completamente regularizada". Foi mesmo? Houve verificação por parte do jornal? Que significa exatamente o "regularizada"? Os prejuízos causados ao consumidor pela demora no atendimento e pela falta de uso do equipamento comprado, pago e inativo serão compensados?
Não é simples curiosidade, não - embora o consumidor de informação tenha direito a esclarecimentos completos. Mas é preciso saber como é que a empresa atende aos clientes que reclamam para saber se é ou não preciso cortá-la de nossa lista de eventuais fornecedores. A função das colunas de reclamações e de defesa do consumidor não é quebrar o galho de quem recorre a elas: é mostrar aos demais leitores quem cumpre seus compromissos, quem os cumpre só pressionado e quem jamais os cumpre.
Como...
De um grande portal noticioso, ligado a importante grupo jornalístico: