Numa escorregada memorável, o então chanceler Rubens Ricúpero disse na TV, certo de que estava fora do ar, que o Governo mostrava o que era bom e escondia o que era ruim. O presidente Bolsonaro faz justinho o oposto: quando aparece notícia boa, arruma uma briga boba que a esconde. Vamos aqui inverter o processo: dar primeiro a boa notícia e aí contar como Bolsonaro a abafou. O motivo não conto, nem sei, e acho que nem ele sabe.
A boa notícia: o índice de desemprego no país caiu de 11,8% para 11,6%. A queda é minúscula, o índice ainda é monstruoso, o desemprego continua atingindo 12,4 milhões de pessoas. Mas a melhora, embora pequena, mostra queda no desemprego, e pode sinalizar uma tendência (ainda mais com o aumento da produção de papelão, que indica maior consumo de embalagens).
Bolsonaro preferiu povoar o noticiário com uma atitude autoritária e de legalidade discutível: na licitação de assinatura de jornais para o Governo, a Folha de S.Paulo foi excluída. Ninguém é obrigado a ler a Folha, nem o presidente, mas o Governo não pode ser privado das informações de um dos principais jornais do país.
Por que? Primeiro, Bolsonaro disse que não podia inteirar-se de tudo o que fazia cada um de seus 22 ministérios. Então decidiu assumir, e disse: “Eu quero pedir à Folha que se retrate de todos os males e calúnias que fez contra a minha pessoa”. Sem problemas: para isso existe a Justiça. Se processar a Folha e ganhar, poderá obrigá-la a retratar-se de tudo.
Briga longa
Bolsonaro tem criticado pesadamente duas empresas de comunicação, às quais atribui má vontade e má fé ao dar notícias sobre ele (desde a campanha) e seu Governo: a Folha e o Grupo Globo. Mas, na licitação sobre assinaturas, só a Folha foi atingida: O Globo está entre os jornais a ser assinados. O problema é que Bolsonaro é presidente, mas não é o Governo. Por isso pode ter de enfrentar a reação da Folha nos tribunais – não pelo valor que deixa de receber, pequeno diante do seu porte, mas por uma questão de princípio.
Mais problemas
A decisão do STF de autorizar o compartilhamento de dados obtidos pela Unidade de Inteligência Financeira (ex-Coaf) com o Ministério Público e a Polícia, sem ordem judicial, traz de volta a questão de Flávio Bolsonaro: Dias Toffoli tinha proibido o compartilhamento sem ordem judicial, e os inquéritos instaurados com base nesse compartilhamento foram trancados.
Agora, podem ser reabertos. Não é obrigatório que o sejam: a questão é complexa, e o STF deixou para o dia 4 a decisão sobre a maneira de tratar os processos até agora trancados. O caso está entre as queixas de Bolsonaro contra a Folha: foi quem publicou a movimentação financeira de Queiroz, o assessor mais ligado a Flávio Bolsonaro, o que acabou levando ao inquérito.
Pobres de elite
Heloísa Bolsonaro, esposa de Eduardo, o que foi sem nunca ter sido nosso embaixador em Washington, disse no Instagram que o casal “passa por perrengues” vivendo com o salário de cerca de R$ 33 mil do deputado federal. “A gente não fica andando de iate, de jatinho, de primeira classe”. A vida é dura: às vezes ela, pessoalmente, faz a faxina da casa para economizar.
E não é só aí que se esforça para fazer economia: “Quando a gente vai para os Estados Unidos, economiza. No Havaí, vivíamos almoçando num mercadinho, que é maravilhoso, e nosso almoço era de US$ 2, US$ 3. Era assim, gente, ficava até mais magrinha, comida maravilhosa!”
Pura coincidência
A Polícia Federal indiciou o presidente do PSL, Luciano Bivar, por suspeita de envolvimento em esquema de candidatas-laranja, com o objetivo de desviar verba pública. O esquema, segundo as denúncias, funciona assim: o partido destina boa parte da verba que recebe do Tesouro para fazer campanha a candidatos que só fingem disputar, e devolvem o dinheiro quase todo para o patrocinador da maracutaia.
Bivar foi quem entregou o partido a Bolsonaro para a campanha presidencial; mas depois reassumiu e manteve o controle sobre as magníficas verbas que todos os partidos recebem. Talvez seja este um dos motivos que levaram Bolsonaro a anunciar sua saída do PSL e a fundação de mais uma legenda, a Aliança. Bivar e Bolsonaro brigaram feio, Bivar está expulsando os bolsonaristas do PSL – entre eles Eduardo, o filho 03. Mas é claro que essa briga nada tem a ver com seu indiciamento.
Quem te viu
Sabe a ex-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Maria do Socorro, apanhada pela Operação Faroeste e detida por ordem do Superior Tribunal de Justiça? Em 2015, pouco antes de assumir a presidência do TJ, em Salvador, a desembargadora Maria do Socorro avaliou a Lava Jato: “Acho que o processo está sendo eficiente (...) a justiça está sendo feita e os culpados deverão ser punidos (...) O povo está carente de Justiça e temos que mostrar que estamos aqui para servir”.
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