EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2020
Bolsonaro não tem nada contra Rodrigo Maia, Alcolumbre ou Celso de Mello. Nada tinha contra Moro ou Valeixo. Bolsonaro pensa em reeleição, mas não é por isso que busca brigar com o Supremo, o Congresso e os governadores que querem disputar a Presidência com ele; nem é o que o leva a reunir sua torcida em passeios de carro para apoiá-lo. Bolsonaro cismou que a hidroxicloroquina é o máximo, mas não é isso que o leva a querer crise. Pandemia, mortos? E daí? Como ele disse, um dia nós todos morreremos.
O problema de Bolsonaro é proteger os filhos. Se, com ele presidente, os filhos já estão sitiados, imagine se deixar a Presidência. Este colunista acredita que, se fosse possível garantir-lhe um indulto à família, ele deixaria de lado a aversão à China, a luta contra o comunismo, o amor à hidroxicloroquina, a reverência a Trump e abandonaria a vida pública, voltando a ser um cidadão comum, daqueles que tomam cuidado com o radar em vez de brigar com ele e jamais sonharam com o filme Pequim contra 000.
Dos três zeros à esquerda, o filho 01 luta há quase dois anos para se livrar de investigações sobre a rachadinha – a parte do salário que seus funcionários de gabinete devolviam ao amigo Queiroz; e seu suplente garante que ele disse ter recebido informações sigilosas da Polícia Federal. Os filhos 02 e 03 podem ser envolvidos no inquérito das notícias falsas, fake news. E o filho 02 chega a ser apontado como criador e comandante do Gabinete do Ódio.
Opinião pública - Datafolha
Bolsonaro está em baixa: pelo Datafolha, 43% consideram seu governo ruim ou péssimo, contra 33% que o acham bom ou ótimo. Os números favoráveis não variaram. Mas os desfavoráveis cresceram cinco pontos de um mês para cá. A maioria absoluta, 52%, três pontos acima da última pesquisa, acha que o presidente perdeu as condições de dirigir nosso país. O número dos que acham que tem condições, sim, se mantém estável em 45%.
Opinião pública – Atlas
Números do Instituto Atlas: 22,5% aprovam o Governo Bolsonaro; 58,1% o desaprovam. O desempenho pessoal do presidente é aprovado por 32,9% e desaprovado por 65,1%. Sobre a pandemia, 24,3% se preocupam mais com o impacto econômico, como Bolsonaro; e 68,1% com as mortes. Distanciamento social? A favor, 72,1%; e, acompanhando o presidente, 24% contra. A ditadura (muito citada por Eduardo Bolsonaro, que fala em Ato 5) é rejeitada por 83,1% e aprovada por 8,9%. Imagem pública: Bolsonaro está em quarto lugar (32%), atrás dos ex-ministros Mandetta (52%), Moro (42%) e do ministro Paulo Guedes (38%); um pouco à frente de Lula, 28%, e de João Doria, 27%. Bolsonaro tem a maior rejeição, 64%, seguido por Dória (54%), Lula (52%), Guedes (44%), Moro (43%) e Mandetta, 29%. O mundo gira: hoje, Mandetta seria um candidato presidencial mais forte que Moro.
E 53,9% querem Lula preso, contra 29,1% que o querem solto.
Fechando as contas
Conforme a pesquisa Atlas, 58% aprovam o impeachment do presidente; 36% são contra.
Balanço geral
Mais da metade dos eleitores optou por Bolsonaro há menos de dois anos. Hoje, seu apoio oscila na casa dos trinta, trinta e poucos por cento. É para este grupo que Bolsonaro fala: precisa mantê-lo unido, porque é o grupo que o mantém no poder. E radicaliza ao máximo: quer levar os outros Poderes e os investigadores a reduzir ou retardar as ações contra ele, ou partir para o tudo ou nada, sabendo que ficar parado é aguardar o desastre – no caso, as investigações sobre seus filhos. Por isso ele se arrisca. E arrisca todo o país.
Sem esmorecer
Um personagem-chave na luta de Bolsonaro para manter-se no poder é o procurador-geral Augusto Aras. Nos últimos dias, o presidente acenou a Aras com a possível nomeação para o Supremo, numa eventual terceira vaga (duas ocorrem nos próximos meses, com a aposentadoria compulsória dos ministros Celso de Mello e Marco Aurélio; uma terceira se algum outro ministro se aposentar ou vier a falecer). E condecorou Aras com a Medalha do Mérito Naval (no mesmo decreto, concedeu a condecoração também ao ministro da Educação, Abraham Weintraub).
Por que numa terceira vaga? O presidente já disse que quer nomear um ministro “terrivelmente cristão”, no caso um evangélico – talvez o atual ministro da Justiça, André Mendonça, evangélico praticante, que declarou considerar Bolsonaro “um profeta”. Mas sobra uma vaga: por que não para Aras? Deve imaginar, suponho, que Aras, querendo garantir a cadeira, não irá querer bater de frente com ele.
Mortes, doença? E daí?
Informação de O Globo, com base em documentos oficiais: o Ministério da Saúde tem R$ 34,4 bilhões disponíveis para ações de combate direto à pandemia. Até o dia 28, tinha gasto R$ 8,1 bilhões, ou 23,6% do total.
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