O presidente Bolsonaro pensa que seu maior problema é o Congresso. Não é: tudo o que pode ser resolvido com dinheiro não é problema, é custo. Sim, está sendo caro: evitar impeachment, evitar CPIs, o investimento é alto mesmo. Mas não é um problema. Para evitar o constrangimento de levar uma proposta indecente a um parlamentar decente, o Brasil criou uma novidade tecnológica: a turma disposta a ouvir os argumentos do Poder Executivo – e, ao menos em um caso famoso, de até entubá-los – usa código de barras em local visível. Facilita o diálogo, evita incompreensões, não se perde tempo.
Mas o maior problema não é o Congresso (nem é o Congresso a solução). A turma do código de barras quer é levar vantagem em tudo. E, se já foram pagos, qual o problema de mudar de posição? Trair e coçar é só começar.
O grande problema do presidente Bolsonaro é um grupo de trabalhadores que já acreditou nele: os caminhoneiros. Como já acreditaram (e já levaram um pé no pazuello), conversar com eles é difícil. Talvez não aconteça nada, pois não há cúpulas que os comandem; mas, se acontecer, os caminhoneiros programaram sua parada para esta segunda-feira. Se não pararem, Bolsonaro poderá continuar pensando o tempo todo no governador João Doria. Mas, se houver paralisação, todo o país terá problemas sérios. Bolsonaro também.
Boa parte das mercadorias viaja de caminhão. Uma greve derruba o abastecimento. Vai faltar até leite condensado para o pão de Sua Excelência.
Os problemas
Os caminhoneiros usam caminhões caros, para transportar mercadorias pesadas a longa distância. A prestação dos caminhões é alta. Há concorrência pesada. É difícil suportar o aumento do Diesel sempre que houver interesse da Petrobras. É difícil pagar pneus, feitos com matéria-prima importada, com a alta do dólar. Nesta semana o Diesel teve novo reajuste, 4,4%. E 2021 teve aumentos pesados de combustíveis, um atrás do outro. Bolsonaro comenta que vai atenuar a alta do Diesel reduzindo o PIS/Cofins. Mas na última greve essas promessas foram feitas e o Governo se esqueceu de cumpri-las.
O problemão
O maior problema, entretanto, não está nem equacionado: é o projeto que permite a navios estrangeiros fazer navegação de cabotagem (chama-se BR do Mar). O armador estrangeiro poderá levar seus navios de porto em porto (o que hoje é proibido), usando o porão vazio para transportar mercadoria. Para os caminhoneiros e seus caminhões pesados, sobrará a retirada dos produtos do porto, para levá-los ao depósito.
Será a destruição de uma categoria. E o desmonte, em benefício de estrangeiros, do esquema de transporte do país, sem que se tenha sequer estudado o que fazer.
Capitão Moçanaro
O Governo gastou com guloseimas, em 2020, mais ou menos do que em 2019? O leite condensado nem é tanto assim, considerando-se que é para a tropa toda? O vinho será também para a tropa? Quem acusa é esquerdista?
Besteira: nada disso tem a menor importância. O importante é saber quanto foi pago pelas mercadorias. Superfaturamento não é trânsito, onde é importante saber onde ficam esquerda e direita: superfaturamento é crime, ponto. A discussão é bem abordada pelo engenheiro Haroldo Lima, político de esquerda, mas que quer saber o que é importante: quanto custou? Preço de mercado? Mais: quem forneceu? Uma microempresa cujo faturamento não ultrapassa R$ 360 mil por ano? É uma coisa bem esquisitinha. (https://www.chumbogordo.com.br/36867-o-abominavel-exemplo-de-um-mentiroso-e-corrupto-por-haroldo-lima/)
Sem desperdício
Não esqueçamos que, nessa hora de pandemia, ao menos nessa hora, seria útil economizar um pouco. Auxílio-paletó, auxílio-moradia, duas casas para os presidentes da Câmara e do Senado, automóveis de representação aos montes, penduricalhos livres de impostos, todo mundo fechando os olhos à determinação constitucional do teto de salários – não, não dá para continuar. Por que 513 deputados e 81 senadores, cada um com dezenas de assessores? Se fossem 250 deputados e 54 senadores (dois por Estado, como nos EUA), o Congresso seria mais fraco? O deputado Clodovil apresentou projeto neste sentido – foi para a gaveta, Clodovil morreu, e o projeto na gaveta ficou.
Cada um quer o seu
O jornal O Estado de S. Paulo conseguiu acesso a uma planilha sobre o andamento das eleições no Congresso. O Governo (interessado na vitória do deputado Arthur Lira e do senador Rodrigues Pacheco) destinou R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores aplicarem em obras nos seus redutos. O dinheiro, diz o Estadão, saiu do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Mas isso não quer dizer que o Governo não esteja economizando. Não quis, por exemplo, pagar o preço das vacinas da Pfizer. Achou-as caras.
Talvez espere uma liquidação para comprar as vacinas que tenham sobrado.
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