Denúncia envolve mais do que irregularidades em lacração de bagagem, o comportamento da Infraero, contratos sem licitação: a empresa TrueStar, de Paolo Berlusconi, irmão do ex-primeiro-ministro italiano, age de maneira estranha, como se não se preocupasse com prejuízos enormes e até gostasse de tê-los. Ministério Público deve entrar na investigação. Italianos fazem negócios no país sem visto de trabalho; seguro oferecido não é reconhecido pela SUSEP e contratos não têm como gerar lucros.
São Paulo - Um embrulho de malas mais do que completo foi revelado em ampla reportagem da Folha de S. Paulo deste domingo, 25, assinada pela repórter Mariana Barbosa. Veja
aqui.
O irmão mais novo do ex-todo poderoso primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, Paolo Berlusconi, e a sua empresa
TrueStar, que oferece seguro e serviço de proteção de bagagens em aeroportos, tem sido estranhamente favorecida pela Infraero, a estatal que administra os aeroportos brasileiros. A
TrueStar obteve renovação de contratos de locação no aeroporto internacional de Guarulhos sem licitação, ao contrário do que determina a lei. Em alguns aeroportos, a empresa ocupa gratuitamente áreas bem maiores do que as estabelecidas em contrato. É oque acontece em Brasília e Congonhas, em São Paulo.
Mas o caso envolve ainda uma série e tanto de irregularidades: a empresa oferece proteção contra extravio ou danos à bagagem sem revelar, na apólice fornecida ao cliente, qual é a seguradora, e o número de telefone que divulgam vai fazer o reclamante parar ... lá na Suíça! E pagando ligação internacional. Não há um número de 0800 no Brasil, nem - o que seria obrigatório- o número do registro na Superintendência de Seguros Privados, SUSEP. Segundo o Presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio de Janeiro, Henrique Brandão, essa prática configura crime.
O nome de Paolo Berlusconi está oficialmente na documentação apresentada em 2009 à Infraero pela
Sinapsis Trading, dona da marca
TrueStar. Berlusconi entrou na sociedade em 2002, quando teria comprado o negócio do ex-piloto de corrida italiano Fabio Talin, que continua até hoje à frente do negócio. Talin vem seguidamente ao Brasil, com outros italianos. Todos entram apenas como turistas e costumam se reunir no próprio aeroporto.
Tantos detalhes só foram possíveis após denúncia da empresa pioneira no mercado de embalagem e segurança de malas, a
ProtecBag, há mais de 20 anos no mercado - aliás, mercado por ela criado, e cuja patente só venceu há 5 anos. O executivo Paulo Fabra, detentor da marca
ProtecBag, cansou de ver seus franqueados sendo praticamente expulsos dos aeroportos onde operam. A empresa já teve 27 lojas franqueadas nos aeroportos brasileiros. Hoje são 23, e o número cai com o avanço fora do normal da
TrueStar.
- "Nossos contratos estão vencendo e não há condição econômica de sobreviver com os valores irreais de aluguel que a
TrueStar está pagando e com a forma dos contratos firmados com a Infraero, que fecha os olhos. Em setembro reunimos os dados e denunciamos as irregularidades à Infraero, sem receber resposta".
Por exemplo, cita Fabra, no mês passado, com o vencimento do contrato em Maceió, a
TrueStar conseguiu o ponto ao oferecer aluguel de R$ 12 mil - R$ 9.000 mais do que o contrato anterior. A franqueada da
ProtecBag, que faturava R$ 20 mil brutos por mês, até chegou a oferecer R$ 8.000 no pregão, mas foi vencida pela
TrueStar. "Só pode haver algo errado. Conheço esse setor como a palma de minha mão e sei fazer contas. Se descontar custo de matéria-prima, salário do funcionário e impostos, a conta não fecha", diz Fabra. "Há algo muito errado", conclui. O empresário reuniu documentos, as falhas contratuais, e mostra fotos da visível invasão estrangeira, como diz. "É só ver. O tamanho das lojas da
TrueStar ultrapassa, e muito, os espaços definidos no contrato. Tem muita coisa estranha a ser averiguada".
Paulo Fabra está encaminhando denúncia ao Ministério Público Federal. "Não é possível ficar calado. Uma empresa sem comprometimento com o país, utilizando subterfúgios e possivelmente corrompendo agentes públicos. Um desrespeito não só aos empresários nacionais que trabalham sério, mas um grande risco ao consumidor que, acreditando que protege seus bens ao cuidar de embalar as suas malas, fica desprotegido", afirma.
"Avisei várias vezes, notifiquei oficialmente a Infraero, que não se dignou a me dar uma mera resposta. Ao contrário só estou vendo nossos franqueados sendo empurrados dos aeroportos, e novas regras sendo impostas nas licitações", conclui o empresário.
Outro lado
A
Infraero diz agora que tomou conhecimento das irregularidades em novembro, após receber denúncia da concorrente
ProtecBag. E que a auditoria interna que está sendo realizada para apurar as denúncias só deve ser concluída no fim de fevereiro. A reportagem da Folha de S.Paulo tentou ouvir, sem sucesso, a
TrueStar. A
SUSEP não se pronunciou.
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